É interessante observarmos que à exceção do afresco A última Ceia de Leonardo da Vinci, 1495-1497, que nos é tão familiar, e de tantas imagens sacras que cotidianamente nos deparamos ou de lembranças de um sem número de outras, relativamente ao conjunto dos doze Apóstolos, isto não é tão comum. Excluindo os Apóstolos Paulo, Pedro e João, muito provavelmente, isto pode estar relacionado a ser vago o conhecimento que se tem dos percursos de vida apostólica dos outros.
     O olhar incomum que se vê em Les Apôtres, torna-se, assim, ainda mais surpreendente. Quando nos deparamos com obras dessa magnitude, nos surpreendemos também com a dimensão que a Fotografia é capaz de atingir. Do quanto pode estimular um universo tão abrangente de possibilidades, a ponto de reunir em um mesmo espaço-tempo: sacro e profano, sem perder a supremacia de ser Arte; e mais, de ser uma expressão maior da essência do perceber e do sentir da humanidade, e porquanto, de tocar a cada um tão profundamente.
     Por ser a visão um dos sentidos que detém a qualidade de estabelecer uma conexão direta entre imagens externas e imagens que temos em nós internalizadas; e ainda, do quanto esta comunicação, voluntária ou não, se constitui em um poderoso processo dinâmico com elementos suficientes para acionar mecanismos inconscientes, que podem viabilizar a emersão das mais remotas lembranças. Processo, que talvez, justifique um pouco do profundo impacto que as imagens de Kossakowski a mim proporcionaram: em acessar através da genialidade concretizada pelo artista, reminiscências de meu longínquo imaginário infantil. Possivelmente de uma infância permeada por ensinamentos católicos, de uma Criciúma que transitava os idos anos da virada da década de 1960, recordar sentimentos amortecidos que inexoravelmente fizeram parte da minha existência. Recordações de sentimentos que, de alguma forma, me estimularam à possibilidade de realizá-los.
     Diferentemente do conceito envolvido na série Les Apôtres, meu pensamento restringiu-se à possibilidade de encontrar em algum lugar esculturas de grandes dimensões dos doze Apóstolos, tendo como propósito visitar; e assim como o fez Kossakowski, fazer o registro em imagens. Isto foi possível quando visitei o Santuário de São Paulo Apóstolo que fica localizado no interior do Estado do Rio Grande do Sul, o qual contém um grande trabalho já realizado sobre os doze Apóstolos, obra do escultor catarinense Conrado Michael Moser.
     Descendente de uma tradicional família de escultores e filho do renomado escultor Conrado Moser, Conrado Michael iniciou suas atividades de escultura ainda jovem. Nascido em Treze Tílias em 1982, entre os anos de 2001 e 2004 estudou e graduou-se em Escultura na Staatliche Berufsfachschule für Holzbildhauer, na cidade Oberammergau, Alemanha. Desde então vem realizando um expressivo trabalho na área da Escultura, sendo que nos últimos anos tem-se concentrado principalmente em estatuária sacra em madeira e concreto. Seu magnífico trabalho com os doze Apóstolos compreende esculturas confeccionadas em concreto armado, com 2,5 metros de altura e que, posicionadas sobre pedestais de 1,5 metro, formam cada uma delas um conjunto de 4 metros de altura; e dispenderam dois anos para sua realização.
     Localizado na cidade de Ilópolis, no Alto do Vale do Taquari, o Santuário São Paulo Apóstolo foi uma obra idealizada pelo Padre Eleutério Orsolin, que para sua realização contou com a participação da Prefeitura Municipal de Ilópolis, de universidades, de outras entidades e da própria comunidade ilopolitana. Foi inaugurado em 25 de janeiro de 2014 e é o único do mundo dedicado a São Paulo Apóstolo. Teve seu status elevado em 1º de janeiro de 1998, fato que configurou-se em uma das principais marcas deixadas pelo Padre Eleutério nos 17 anos que permaneceu no município; hoje Reitor do Seminário São João Batista, em Santa Cruz do Sul, e Vigário da Paróquia dos Santos Mártires das Missões, em Linha Santa Cruz. Atualmente encontra-se à frente do Santuário o Padre Clécio José Henckes.
     Minha visita à cidade de Ilópolis ocorreu entre os dias 24 e 26 de janeiro de 2015, coincidindo com as comemorações do 1º aniversário do Santuário; ocasião em que era inaugurada a Capela destinada ao Papa São João Paulo II, e apresentada à comunidade suas vestes litúrgicas: uma casula e uma estola, sobrepostas a uma nova escultura do Santo também de autoria de Conrado Michael Moser. Durante a missa festiva realizada na tarde do domingo, dia 25, foi anunciado que a Capela receberia uma relíquia feita com sangue do Papa João Paulo II; evento que aconteceu somente em 26 de abril.
     Tendo ao centro a Igreja Matriz em frente à Praça Itália, o Santuário de São Paulo Apóstolo fica localizado em uma pequena colina da área central da cidade. Em seu adro de gramado verde, separados ao centro por uma calçada que se estende até a Praça, estão situadas as esculturas dos doze Apóstolos dispostas em dois grupos, levemente diagonalizados com relação às extremidades laterais da esplanada. Não por acaso, cada uma das esculturas está posicionada em um lugar específico. Mais próximas à igreja encontram-se: do lado esquerdo Paulo e do lado direito Pedro. Na lateral esquerda, descendo a colina em direção à Praça Itália, a partir da escultura do Apóstolo Paulo pela ordem estão os Discípulos que foram convertidos: Tiago Menor, Felipe, Bartolomeu, Tomé e Mateus. E no lado direito, a partir do Apóstolo Pedro os teístas: André, Tiago Maior, João, Simão e Judas Tadeu. Além disto, lado a lado, estão as esculturas dos Apóstolos que eram parceiros de caminhada.
     Dentre o grupo de discípulos, eles foram escolhidos por Jesus Cristo para se associarem à Sua obra. Formaram um grupo de doze a quem Ele confiou Sua missão salvítica: sucessores que poderiam dar a maior garantia da fidelidade da Igreja ao Seu fundador; e essa fidelidade ser garantida a qualquer tempo na sucessão apostólica ininterrupta. Suas representações figurativas estão associadas a características a eles atribuídas, e a elementos simbólicos que marcaram suas caminhadas apostólicas. Além disto, de acordo com o Papa Bento XVI em seu livro: Os Doze Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Jesus, Lisboa, Ed. Paulus, 2007 [1]: O que os Apóstolos representam no relacionamento entre o Senhor Jesus e a Igreja das origens, representa-o analogamente a sucessão ministerial no relacionamento a Igreja das origens e a Igreja atual.


     Proponho conhecermos um pouco mais da caminhada apostólica desses discípulos de Jesus, reproduzindo algumas das reflexões feitas por Sua Santidade o Papa Bento XVI em seu livro [1], assim como, de outras referências:


São Paulo
Também conhecido como Saulo nasceu em Tarso, parte meridional da Turquia central, é considerado o mais destacado gênio religioso e da história da Igreja, e não só da Igreja primitiva. Sua conversão se deu por uma aparição miraculosa de Cristo. Teve como ideal missionário a desvinculação do Cristianismo da exclusividade da cultura judaica e da terra Palestina, para o tornar plenamente universal. Desta forma, percorreu sem descanso e no meio de inúmeras contrariedades e perigos as vastas regiões do Império Romano desde a Síria até a Espanha; como haveria de dizer Deissmann: “Todo o território onde crescem as oliveiras”[1]. Por suas viagens missionárias é considerado o maior responsável pela expansão do Cristianismo no Ocidente. Em sua representação seus ensinamentos através de palavras e escritos são expresso pelo livro que figura em sua mão; e sua morte por decapitação, que ocorreu no mesmo dia que Pedro, por uma espada que segura com a outra mão. Seu corpo encontra-se sob o altar da Basílica de São Paulo extra-muros em Roma [1].


São Pedro
Seu nome original não era Pedro, mas Simão. Era pescador e irmão de André, e é o personagem mais conhecido e citado nos escritos neotestamentários De sua caminhada, o evangelista João narra o primeiro encontro de Jesus com Pedro quando Jesus fixando nele o olhar... disse: ”Tu és Simão, o filho de João. Hás de chamar-te Cefas que significa Pedra”. Suas conversões passam por duas situações decisivas da sua vida: a primeira em seu barco, junto ao lago da Galileia, onde Jesus convidando-o a ter confiança e a abrir-se a um projeto que ultrapassa qualquer perspectiva sua diz “Não tenhas receio; de futuro, será pescador de homens”; e uma segunda quando também Jesus pergunta aos discípulos “E vós, quem dizeis que eu Sou?”, e Pedro responde em nome dos outros “Tu és o Messias”, isto é, Cristo. Esta resposta de Pedro tem si como que em gérmen a futura construção da fé da Igreja. Com tempo, Pedro passa a ter consciência de sua posição particular, e com frequência toma a palavra em nome dos demais Apóstolos. E assim acontece quando, depois do discurso sobre “o pão da vida”, Jesus desanimado com a incompreensão da multidão questiona seus discípulos: “Vós quem dizeis que Eu sou?”; em que Pedro responde: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. É então que Jesus pronuncia a solene declaração que define, de uma vez para sempre, o papel de Pedro na Igreja: “Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja... Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na Terra ficará ligado no Céu e tudo que desligares na Terra será desligado no Céu” [1]. Em sua representação observamos que as chaves na mão direita contêm esta significação, sendo que, chave em primeiro plano representando a Igreja na Terra, aquela que vemos e construímos com nossas vidas no presente; enquanto que a que está mais oculta, em segundo plano, o Céu: uma meta que ainda não alcançamos mas que deveremos alcançar. E o livro que sustenta na outra mão está associado à catequese, à evangelização e à formação dada por ele e seus sucessores. Sua postura física olhando para o céu demonstra que sua missão é conduzir a Igreja para o Céu; missão que continua através dos Papas, seus legítimos sucessores.


São Tiago Menor
Era irmão de Judas Tadeu, filho de Alfeu e de uma Maria, que poderia ser “Maria de Cleofas”; que estaria aos pés da Cruz junto à Mãe de Jesus. Interveio na questão do relacionamento difícil entre os cristãos de origem judaica e os de origem pagã, tendo como resultado, o início de uma prática de estima e respeito recíprocos que tinha por sua natureza a salvaguarda de tudo o que caracterizava uma das partes. Em as “Cartas católicas”, a primeira delas tem o seu nome, é destinada a todas as Igrejas. Um escrito que insiste muito sobre a necessidade de não reduzir a própria fé a uma mera declaração verbal ou abstrata, mas de expressá-la concretamente em obras de bem. Ou seja, que a fé deve realizar-se na vida, sobretudo no amor ao próximo e particularmente no compromisso com os pobres. É com este olhar que deve ser lida a sua famosa frase: “Assim como o corpo sem alma está morto, assim a fé sem obras está morta”. Assim como, na sua frase: “Se o Senhor quiser”, onde exorta-nos a abandonarmo-nos nas mãos de Deus em tudo o que fazemos, ensinando-nos a não presumir que planifiquemos a nossa vida de modo autônomo e interessado, mas dar espaço à vontade imperscrutável de Deus, que conhece o verdadeiro bem para nós [1]. Foi o primeiro Bispo da primeira Igreja, a de Jerusalém. Segundo consta, foi preso pelo Sumo Sacerdote Ananus e condenado ao apedrejamento. Depois de apedrejado, ficou de joelhos e lhe bateram a cabeça com um palanque de madeira; instrumento que lhe é atribuído em algumas de suas representações figurativas.


Santo André
Seu nome não é hebraico e sim grego; irmão de Pedro, também era pescador. Foi o primeiro Apóstolo a ser chamado para seguir Jesus. Tradições evangélicas recordam o nome de André em três ocasiões marcantes: na multiplicação dos pães da Galileia; em Jerusalém, saindo da cidade quando um discípulo fez notar Jesus o espetáculo dos muros sólidos sobre os quais o Templo se apoiava, quando Jesus que “não ficaria em pé nem sequer uma pedra daqueles muros” e André O questionou “Diz-nos quando tudo isto acontecerá e qual o sinal de que tudo está para acabar”. E Jesus pronunciou o importante discurso sobre a destruição de Jerusalém e do fim do mundo, convidando seus discípulos a ler com atenção os sinais do tempo e a permanecer sempre vigilantes; e também em Jerusalém, juntamente com Felipe servindo de tradutores para um grupo de gregos, quando Jesus disse ao mundo grego: “Chegou a hora de se revelar a glória do Filho do Homem, em verdade voz digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto”. Em seu apostolado André ensina-nos a seguir Jesus com prontidão, a falar com entusiasmo d’Ele a quantos encontramos, e sobretudo a cultivar com Ele um relacionamento de verdadeira familiaridade, bem conscientes de que só n’Ele podemos encontrar o sentido último da nossa vida e da nossa morte. Sofreu o suplício da crucificação, mas no momento supremo pediu para ser posto numa cruz diferente da de Jesus, e o trouxeram uma cruz decussada, isto é, cruzada transversalmente; que por isto foi chamada de “Cruz de Santo André”. E não há dúvidas de que devido ao relacionamento fraterno entre Pedro e André a Igreja Romana e a Igreja de Constantinopla se sentem irmãs entre si de modo especial. E para realçar este relacionamento, em 1964 o Papa Paulo VI restituiu as insignes relíquias de Santo André ao bispo metropolita ortodoxo da cidade de Petrasso na Grécia, onde segundo a tradição ele foi crucificado [1].


São Felipe
Também tem o nome grego como André. À Natanael diz: “Vem e verás!”, manifestando as características da verdadeira testemunha: não se contenta em propor o anúncio, como uma teoria, mas interpela diretamente o interlocutor sugerindo-lhe que faça ele mesmo uma experiência pessoal do que foi anunciado; um convite também a nós para conhecermos de perto Jesus. É para Felipe que Jesus se dirige para obter os pães, que por ocasião da multiplicação dos pães, saciariam a fome do povo que Lhe seguia. Já durante a Última Ceia, há o registro de que Felipe questiona Jesus: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!”, a que Jesus com um tom de indulgente reprovação responde: “Há tanto tempo que estou convosco, e não Me ficaste a conhecer Felipe? Quem me vê, vê o pai. Como é que Me dizes, então “mostra-nos o Pai”? Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim?... Crede-Me: Eu estou no Pai e o Pai está em Mim”. Estas palavras são as mais nobres do Evangelho de João. O evangelista não nos diz se ele compreendeu plenamente a frase de Jesus, mas sem dúvida ele dedicou-lhe totalmente a própria vida. Felipe deixa o ensinamento de deixar-nos conquistar por jesus, a estar com Ele e a convidar também os outros a partilhar esta companhia indispensável. E vendo-O, encontrando Deus, encontrar a verdadeira vida. Segundo algumas narrações, teria evangelizado na Grécia depois na Frígia, onde enfrentou a morte com um suplício de crucificação ou lapidação [1]. Seu corpo é venerado em Roma na Igreja de São felipe e Tiago. É comumente associado com o símbolo da cruz latina.


São Tiago Maior
Era filho de Zebedeu e irmão de João. Com Pedro e Tiago Menor, esteve presente no acontecimento da Transfiguração de Jesus, experimentando a glória do Senhor, vendo-O no diálogo com Moisés e Elias, vendo transparecer o esplendor divino de Jesus. E também com os dois Apóstolos, no horto de Getsémani, assistiu o sofrimento e humilhação de Jesus, vendo com os próprios olhos como o Filho de Deus Se humilha tornando-Se obediente até a morte. Dele ficam grandes aprendizados, como a abertura para aceitar a chamada do Senhor também quando nos pede que deixemos nossas seguranças humanas, o entusiasmo de segui-Lo com coragem, se for necessário, até ao sacrifício supremo da vida; um exemplo eloquente de adesão generosa a Cristo. Segundo a tradição seu corpo teria sido transportado para a Espanha, para a cidade de Santiago de Compostela [1]; estando seu túmulo situado na Catedral de Santiago, espaço de grande veneração e de numerosas peregrinações. Em sus imagens vemos o cajado, necessário para auxiliar os peregrinos nas suas difíceis viagens por montes e vales.


São Bartolomeu
Também conhecido como Natanael, é o Apóstolo que foi chamado no episódio da figueira, quando Jesus vê-o se aproximar e exclama: “Aqui está o verdadeiro israelita, em quem não há fingimento”, que Lhe responde: “Como me conheces?”, ao qual Ele responde: “Antes que Felipe te chamasse, Eu vi-te quando estavas sob a figueira”; em que Bartolomeu comovido, sente-se compreendido e percebe que Aquele homem sabia tudo sobre si, que conhece o caminho da vida, e que Nele poderia realmente confiar [1]. Como apóstolo levou o evangelho para a Índia, Frígia e Grande Armênia. Foi condenado a ter a pele arrancada do corpo antes de ser decapitado, mas conforme a tradição, mesmo sem pele pregou com entusiasmo o Evangelho, porém a maior pregação foi a visão de sua heroica paciência e perseverança que fazem todo sofrimento do mundo parecerem nada em comparação à glória eterna que Jesus prometeu a seus fiéis seguidores: mesmo com todo o sofrimento não desistiu. Na cena do Juízo Final da Capela Sistina, Michelangelo pintou São Bartolomeu segurando com a mão esquerda a sua pele, sobre a qual deixou seu autorretrato, e na outra o instrumento de seu suplício: um alfanje. Mesmo sendo escassas as informações acerca dele, seu legado permanece para nos dizer que a adesão a Jesus pode ser vivida e testemunhada também sem cumprir obras sensacionais. Extraordinário é e permanece o próprio Jesus, ao qual cada um de nós está chamando a consagrar a própria vida e a própria morte [1].


São João
Filho de Zebedeu e irmão de Tiago Maior. Ele e Tiago estão presentes quando Jesus entra em casa de Pedro para curar sua sogra e com eles segue o Mestre à casa de Jairo cuja filha será chamada à vida, João segue-O quando Ele sobe ao monte para ser transfigurado. Está ao lado d’Ele no monte das Oliveiras quando pronuncia o sermão sobre o fim da cidade e do mundo, e ao Seu lado quando, no horto de Getsémani, Se retira para rezar ao Pai antes da Paixão. Pouco antes da Páscoa, quando Jesus escolhe dois discípulos para os enviar a preparar a sala para a Ceia, confia a ele e a Pedro esta tarefa. É ele que no quarto Evangelho apoia a cabeça no peito do Mestre durante a Última Ceia; assim como, é ele que se encontra aos pés da Cruz juntamente com a Mãe de Jesus. É também ele que testemunha quer do túmulo quer da própria presença do Ressuscitado. Foi levado à ilha de Patmos onde escreveu o Apocalipse. Segundo a tradição, João é “o discípulo predileto” [1]. Era o Apóstolo do amor, “quem não ama a Deus é porque não o conhece”. Com 85 anos foi preso e levado a Roma, jogado em um caldeirão fervente mas saiu ileso. Diz-se que foi feita uma tentativa contra sua vida, dando-lhe um cálice de veneno do qual Deus o poupou. Um cálice com uma cobra no que é seu símbolo e os cabelos longos representa sua longevidade. Morreu de morte natural por volta do ano 100.


São Tomé
Mostra sua determinação de maneira significativa exortando os outros Apóstolos quando Jesus, num momento crítico de Sua vida, decidiu ir a Betânia para ressuscitar Lázaro, aproximando-Se assim perigosamente de Jerusalém. Naquela ocasião Tomé disse aos seus condiscípulos: “Vamos nós também, para morrermos com Ele”. Fato que revela uma disponibilidade total a aderir a Jesus. Já na Última Ceia, ocasião em que Jesus predizendo a Sua iminente partida diz: “E, para onde Eu vou, vós sabeis o caminho”; em que Tomé intervém e diz: “Senhor, não sabemos onde vais, como podemos nós saber o caminho?”; ocasião que Jesus lhe respondeu pronunciando a célebre definição: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Portanto, Tomé é o primeiro a quem é feita esta revelação; e implicitamente sua pergunta confere, não só a ele mas a todos nós: o direito de pedir explicações a Jesus para aquilo que não compreendemos; com franqueza, um verdadeiro modo de rezar, de falar com Ele para exprimirmos a insuficiência da nossa capacidade de compreender, ao mesmo tempo que nos colocamos na atitude confiante de esperar luz e força de que é capaz de as doar. Assim, as experiências de Tomé nos confortam em nossas inseguranças, demonstram que qualquer dúvida pode levar a um êxito luminoso além de qualquer incerteza, e mais, que as palavras dirigidas por ele a Jesus nos recordam o verdadeiro sentido da fé madura e nos encorajam a prosseguir, apesar das dificuldades, pelo nosso caminho de adesão a Ele [1]. Tomé anunciou o evangelho na Pérsia chegando até a Índia, onde por uma lança, seu apostolado foi coroado com o martírio; lança que segura com a mão esquerda em suas representações figurativas.


São Simão
Para diferenciá-lo de Pedro, Simão também era chamado Cananeu ou Zelote. Originário de Cana na Galileia, teria sido o esposo nas bodas de Cana, onde Jesus e Maria estavam presentes. O milagre da transformação de água em vinho teria o instigado a seguir Jesus e com grande entusiasmo. Simão e Judas Tadeu nos ensinaram a redescobrir sempre de novo e a viver incansavelmente a beleza da fé cristã, sabendo dar dela um testemunho forte e ao mesmo tempo sereno [1]. Depois do Pentecostes anunciou o evangelho aos judeus e pagãos e mais tarde juntou-se na Pérsia ao Apóstolo Judas Tadeu. O Rei Badorach permitiu que eles pregassem o Evangelho livremente, e assim eles converteram quase todo o reino. Os sacerdotes dos templos pagãos incitaram o povo e prenderam Simão e Judas Tadeu que deveriam oferecer sacrifícios aos seus deuses. Mas após a oração dos Apóstolos os altares pagãos se destruíram e enfurecidos martirizaram Simão cortando-o ao meio com uma serra. É assim representado figurativamente como tendo em sua mão direita o livro aberto, que simboliza a evangelização, e na mão esquerda, o serrote, ferramenta utilizada para seu martírio.


São Mateus
Era um cobrador de impostos. Após a ascensão de Jesus ao céu e receber o Espírito Santo no Pentecostes, atuou alguns anos com os outros Apóstolos na Palestina. Foi o primeiro a escrever relatos da vida e morte de Jesus ao qual deu o título de Evangelho, ou seja, boa mensagem, boa notícia. Ele, portanto, escreveu o 1º Evangelho. Quando os Apóstolos se separaram para as viagens missionárias pelo mundo, Mateus foi primeiramente para Arábia e após ser preso e milagrosamente salvo, foi para a Etiópia onde depois de muitos milagres encontrou dispostos ouvintes do Evangelho estabelecendo uma grande comunidade Cristã. Anos depois foi morto por soldados do novo rei, que lhe atravessaram uma lança enquanto estava celebrando uma missa. Em suas imagens vê-se a pena na sua mão direita simbolizando sua missão de evangelista; e o livro na mão esquerda o símbolo maior do Evangelho que ele escreveu, e que ajudou a formar a cultura Ocidental.


São Judas Tadeu
Era parente próximo de Jesus, filho de Kleopha, irmão de José, e de Maria, parente próximo da Virgem Maria (que não se deve confundir com Judas Iscariotes). Tiago menor era seu irmão. Antes de seu apostolado era casado com uma mulher também chamada Maria, e vivia da agricultura. Judas Tadeu e Simão nos ensinaram a redescobrir sempre de novo e a viver incansavelmente a beleza da fé cristã, sabendo dar dela um testemunho forte e ao mesmo tempo sereno [1]. Segundo a tradição, após o Pentecostes foi para a Arábia e Síria levar o Evangelho e mais tarde juntou-se a Simão na Pérsia. Realizaram grandes milagres e converteram quase todo o reino, foram apreendidos e Judas Tadeu foi decapitado com um machado. Sua representação é composta pelo machado, instrumento de seu martírio, e um livro na mão que representa sua missão de Apóstolo.


     Subjacente à missão salvítica confiada pelo Senhor a cada um de seus sucessores, o contato mais direto com as caminhadas de cada um dos Apóstolos, nos permite observar mais a fundo o quantum de contribuição que cada um deles trouxe à construção da Sua grande obra; seja com iniciativas próprias, seja como instrumento da fé, permitindo que através de suas ações e questionamentos o Mestre, através de Seus atos e de Suas palavras, pudesse mostrar a direção a ser seguida.
     Mergulhar um pouco mais neste universo que envolveu o nascimento da Igreja, nos faz perceber a real força que moveu estes doze homens chamados por Jesus na direção da fé: seus caminhos, suas dificuldades, suas conquistas, seus legados. Nos leva a refletir um pouco mais sobre a essência dos homens e das coisas; sobre a nossa própria essência.
     Ter visitado o Santuário São Paulo Apóstolo em Ilópolis, para mim foi uma experiência que veio somar neste processo reflexivo. O numinoso que envolve aquele espaço espiritual, a beleza e a paz que residem nos semblantes de cada uma das imagens dos Apóstolos consolidam nosso sentimento e nosso conhecimento histórico-espiritual. Por meio dos sutis traços expressos através arte do escultor, coexistem componentes simbólicos que exprimem a notável trajetória apostólica; fatores que muito contribui com a preservação da verdadeira mensagem do Senhor, transpor: espaço e tempo. Da mesma forma, revelam a dimensão que a arte contém: “À escultura cabe a tarefa de materializar o imaterial; a partir da matéria bruta dá sentido à forma e resgata a imagem, sendo o escultor o agente transformador, o elo de união entre o imaginário e o real”.
     Desde que conheci Les Apôtres de Kossakowski, por certo eu não imaginava que iria vivenciar (realizar) um processo interior tão rico. Trazer à tona este tema fortalece meu pensamento sobre o “acreditar”, pois quando acreditamos, temos fé, e nas palavras de Jesus em Mc 11, 22-26: “Tenham fé em Deus. Eu lhes garanto: Se alguém disser a esta montanha ‘Levante-se e atire-se no mar’, e não duvidar no coração, mas acreditar que se realiza aquilo que está dizendo, assim acontecerá. Portanto eu lhes digo: Tudo o que vocês pedirem rezando, creiam que o já receberam, e assim acontecerá para vocês. E quando vocês estiverem rezando, se tiverem alguma coisa contra alguém, o perdoem, para que o Pai de vocês, que está nos céus, também perdoe os pecados de vocês”.
     Além da força inerente destas palavras, fica em mim o exemplo de perseverança demonstrado pelos “Doze”. Suas determinações em levar ao mundo a mensagem do Senhor, e como sucessores de Jesus, mantê-la viva e preservada. Assim nós, com nossa fé e nossas verdades e, portanto, também agentes vivos dentro de um processo maior, temos uma missão particular a cumprir, no sentido de fazer deste, um mundo ainda melhor. Fica aqui minha reflexão.
     Que as imagens que apresento nesta exposição virtual possam também fazer parte da minha particular contribuição na vida e no caminho de vocês: fiquem com Deus!


Dedico este trabalho aos meus pais Sonia Léa e Oduvaldo, grandes mestres de minha caminhada.


Ofereço este trabalho:
- Ao escultor Conrado Michael Moser, realizador dessa grandiosa obra de esculturas, e seus pais Katharina e Conrado Moser;
- Ao Padre Eleutério Orsolin, idealizador e realizador do Santuário São Paulo Apóstolo;
- Ao Padre Clécio José Henckes pelo carinho com que me recebeu durante a visita ao Santuário São Paulo Apóstolo;
- Aos habitantes da cidade de Ilópolis; e
- Aos cristãos.