onde também tudo começava a acontecer. Um tempo onde os grandes personagens que fizeram a História da cidade ainda estavam por ali. Um tempo onde o carvão ainda era o grande propulsor da economia, mas que já havia um vigoroso despertar da indústria cerâmica; que foi, talvez, o grande representante da forte industrialização que surgiu a seguir no Sul do Estado de Santa Catarina. Considero que estes foram momentos do berço de uma nova sociedade que surgia. São tempos de que tenho saudade.
Tenho saudades do trem que passava pelo centro da cidade, do trilho do trem e da passarela que havia e por onde passavam as pessoas. Saudades do rio Criciúma que hoje nem se vê mais, da antiga Prefeitura que ficava na Praça, da Igreja São José, dos cinemas Milanez, Rovaris e Ópera, do faquir que ficava em exposição no cinema por 30 dias: sem comer e sem beber, dos circos e dos seus animais que animavam as crianças, do antigo cemitério, das antigas estações rodoviárias, da antiga telefônica, dos Cafés Rio e São Paulo, do velho Burriquete que as crianças tinham tanto medo, do início da Praça do Congresso, da Gruta, da inauguração do Criciúma Clube, dos bailes de Carnaval no Clube Mampituba do centro, do Pão Pluma, da Pizzaria Sete Belo, da Churrascaria OK, da Praça do Imigrante, do antigo Monumento ao Mineiro, da moderna arquitetura que surgia, do novo Fórum...
São lembranças, imagens que ficaram em minha memória, tão frágeis e tão fortes; verdadeiros códigos, que somente quem por ali passou pode saber: os criciumenses daquele tempo. Muito se perdeu e hoje são apenas memórias, mas muito ainda permanece vivo. E foi refletindo sobre o que ainda restou, que emergiu esta pequena Narrativa em Retratos, onde revisito um pouco daquele espaço-tempo perdido num tempo ainda presente; muito ainda presente em minha memória.
O resultado é uma espécie de processo catártico, através do percurso por entre muitos dos lugares que ainda existem, que fizeram parte daqueles caminhos, e que todos também viram, mas como cada um deles, faço o registro do meu singular olhar. Percorri também outros lugares, não exatamente os mesmos, mas que complementam e materializam em muito: os objetos, os utensílios e os ambientes, que me remetem ao sentimento que tive presente naquela época. Considero uma grande oportunidade poder projetar em imagens reais, hoje modificadas pelo tempo, muito daquilo que guardei comigo por mais de 50 anos.
Concluo, lembrando palavras que muitas vezes nos passam desapercebidas mas que acabam tendo um significado tão profundo por nos tocarem tão diretamente. Refiro-me àquelas gravadas em placa aposta no Monumento da Primeira Pedra Mó, e que, ao mesmo tempo em que enobrece a bravura dos primeiros imigrantes, ressalta a gratidão do povo criciumense por aqueles primeiros imigrantes que ali chegaram. Faço delas as minhas palavras: "Movidas pela força humana, estas pedras foram roladas por entre mata virgem, cerca de 40 km, destinadas à primeira indústria de Criciúma, em 1880 ... Homenagem aos bravos colonos fundadores desta cidade".
Criciúma cresceu, cresceu muito. E continua crescendo em nossos corações.
Parabéns criciumenses, pelos 134 anos de fundação desta grande cidade: em 6 de janeiro de 2014!


Agradecimento especial:
- Mina de Visitação Octávio Fontana: ao funcionário Ricardo Neves